terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cor, cor


Azul-celeste era sua mente
Como o Céu, eles diziam
E aquele garoto sempre acreditou

Não, não, não. Ele nunca comprou essa ideia, porém alguns sonhos sim. Sempre comprando por pequenas coisas superficiais, e sempre os consumindo quase que instantaneamente. Mas nunca acreditou que sua mente poderia alcançar uma cor tão pura, fez questão de se enterrar no lodo esverdeado, de um gosto amargo e infeliz num dia de sol.
Quem sabe, quem sabe alguém pode tira-lo dali, com um sopro, um arranhão ou mesmo uma mordida. Pra voar e mesmo que sua mente não seja da cor do Céu, ela estaria próximo a ele.
Se enterrando no lodo pode ser que vá tão fundo que encontre o céu que fica debaixo de tudo, onde borboletas vivem em casulos até se tornarem lagartas para voar, onde aves ficam a vida toda retrocedendo até se tornar um belo e maduro ovo. Um céu onde sua vida correria de trás pra frente e ele poderia viver novamente aqueles poucos dias de felicidade extrema, onde cada sorriso significava real alegria.

Qureack pow, num salto mortal infinito o loop continua, o garoto da mente não tão azul-celeste se achava fora de fase, no vão entre dimensões paralelas, sem gritar, sem mexer.
-Olha! Que lindas estrelas, a galáxia toda está dentro do meu...estômago? - Brincava de se perguntar.
De todos, ele era o único que sabia a resposta, é óbvio que naquela maçã que havia comido estavam contidas todas as existências. Qualquer idiota com um QI razoável notaria que o Universo todo girava em torno daquele umbigo.

Escarlate era sua mente
Como o Inferno, eles temiam
E aquele garoto sabia que era verdade


domingo, 20 de novembro de 2011

Cinema


Ele via sua vida como uma sucessão de vários curta-metragem, todos com mesmo tema. Sempre com aquela impressão de solidão. Só desejava algo épico, uma única vez, algo único e grandioso.
Sem poder pausar ou mesmo mudar de mídia continua vivendo nesse ciclo, sempre cansado e distante das coisas. Deveria parar de pretender as experiências e as fazer acontecer, mas sua procrastinação e preguiça não lhe permitem. Tenta em vão por blackouts de luz na sua existência com entorpecentes que pouco funcionam. E espera o dia em que sua tela vai ser desligada, nunca realmente vivendo, sempre observando, rindo e chorando sozinho, sentado no seu banco e olhando pros lados todo o tempo em busca de alguém que não está lá pra tecer algum comentário sobre seu próprio filme.

domingo, 13 de novembro de 2011

Persona


Eu te evito por não conseguir parar de sorrir enquanto falo contigo. Pode parecer raiva, mas não é, não tem como não consigo me controlar e não quero me machucar ainda mais. Enquanto isso as pessoas que eu queria sorrir sem me segurar não me causam esse efeito.
É injusto, cruel até.
Tenho notado minha pessoa ficar inflexível, minhas personas estão se tornando uma só, amarga, distante, depressiva e a única vez que eu consigo vestir uma máscara diferente é quando falo com a pessoa que eu deveria manter distância, tentando demonstrar que está tudo bem, não me falta nada.
Estou condensando, me tornando lento e pegajoso, ficando pra trás parado no tempo e emburrecendo.
Tornar-me uma estátua não me seria ruim. Os pensamentos de não querer ter conhecido alguém foram substituídos pelos de não querer existir nessa realidade e eu não encontro nenhum escape que seja grande o suficiente.
Me sinto como o Chapeleiro Maluco depois que Alice foi embora, vazio, insano e sem diversão.
Quero tudo, quero um futuro. Mas o que eu realmente desejo é não estar aqui, não ter nascido nessa vida.
Meu poder de materializar minhas personas foi embora com meu tesão incessante e minha capacidade de me sentir livre e a procura de um novo amor.